Todos conhecem o velho clichê: o
rock morreu. Bobagem! Nem respira por aparelhos, como é dito por vezes em sua
versão eufêmica. Concordo que há certo tempo que poucas bandas conseguem repetir
êxitos comerciais como outrora, mas há ainda uma boa quantidade de artistas que
entregam ótimos trabalhos nos tempos atuais.
No primeiro semestre do ano de
2018, de fato, não houve numerosos lançamentos no mundo do rock. Entretanto há
pelo menos uma dezena de discos relevantes concebidos neste período, e, dentre
eles, destaco meus seis preferidos, por ordem cronológica.
Janeiro: Black Label
Society lançou Grimmest Hits, que ao
contrário do que indica o título, não é uma coletânea. Apesar de dividir a
opinião de público e crítica, traz ótimas faixas muito bem distribuídas.
Aparentemente a volta de seu líder, compositor, vocalista e guitarrista, Zakk
Wylde ao time de Ozzy Osbourne trouxe bons frutos ao Black Label Society: Riffs
inspirados em faixas como The Betrayal
e Illusions of Peace, baladas
imponentes como Nothing Left to Say e
That Day That Heaven Had Gone Away.
Destaque especial para A Love Unreal,
por enquanto, meu clipe eleito como o melhor de 2018.
Fevereiro: A banda
brasileira Angra lançou seu nono disco de estúdio, Ømni, o segundo com o vocalista italiano Fabio Lione. As músicas remetem
a várias fases da banda de forma renovada, valorizando a nova formação. Black Widow’s Web causou alvoroço na
internet graças ao contraste da participação da cantora Sandy (a faixa ainda
conta com Alissa White-Gluz nos vocais). Músicas como Insania, Travelers of Time
e Magic Mirror mostram grande
potencial nesta nova fase.
Março: Um dos melhores
lançamentos de metal recentemente se chama Firepower
do Judas Priest, a ponto de ser considerado um dos grandes trabalhos da
discografia desta banda que é um dos pilares do heavy metal. Com muito peso,
começando pela própria Firepower,
faixa após faixa, entregam uma inesgotável energia, além de riffs e solos de
tirar o fôlego. Várias músicas, talvez se tivessem sido lançadas em décadas
antes, poderiam hoje ser consideradas clássicos da banda. Ou até o disco como
um todo.
Abril: Após catorze anos,
o aguardado quarto álbum do supergrupo A Perfect Circle veio à tona com o nome
de Eat the Elephant. Correspondida à expectativa de manter a sempre alta qualidade, trata-se de um projeto
primoroso. Hipnótico seria um adjetivo coerente. Introspectivo, com temas
atuais e importantes, atmosfera envolvente, com todas as faixas se encaixando
sem jamais soarem repetitivas ou parecidas, além de musicalmente impecável. É
injusto citar apenas destaques individuais, mas para quem não quiser começar
com o todo, vale ouvir So Long, And
Thanks For All The Fish e Talk Talk.
Maio: Não tão imponente
quanto os anteriores, o mais recente trabalho do Five Finger Death Punch, And Justice for None, faz jus a
carreira da banda: hard rock muito bem executado, energia de sobra, refrões
para se cantar junto e uma grande dose de semelhança com Stone Sour. Depois de
alguns problemas que levaram até o vocalista Ivan Moody a sair da banda
temporariamente, o reflexo disso tudo fica claro em boa parte das músicas, o
que em momento algum é ruim musicalmente. Destaque para o cover de Gone Away do Offspring e Shaim
Paim.
Junho: Nunca se deixe
levar pelas primeiras impressões. A banda sueca Ghost não figurava entre os
milhares artistas que me agradam no meio musical. Sempre julguei artificial e
desnecessário o figurino de papas e bispos satânicos por eles adotado, o que
pode ter influenciado o meu julgamento musical. Continuo não achando seus
primeiros trabalhos ótimos, mas fui gratamente surpreendido pelo lançamento de Prequelle. É notável a evolução musical
da banda, ao mesmo tempo sendo atual e podendo se passar várias vezes por algum
clássico progressista dos anos setenta. O instrumental em todas as faixas
alcançou o ápice de sua carreira, e posso incluir facilmente entre os melhores
álbuns do ano. Destaque para Rats, Pro Memoria e Dance Macabre.
Outros bons discos foram lançados
neste período, dentre eles o autointitulado Stone Temple Pilots, o primeiro com o vocalista Jeff Gutt (após as
mortes de Scott Weiland e Chester Bennington); Sign Of The Dragonhead da banda Leaves' Eyes, também o primeiro com
nova vocalista; Arctic Monkeys lançou Tranquility
Base Hotel & Casino, ótimo e, como de costume, mudando totalmente o
estilo de trabalhos anteriores. Também bem experimental, Jack White lançou Boarding House Reach. A Dying Machine
de Tremonti também vale muito uma audição.
Que o segundo semestre venha com,
no mínimo, o mesmo número de obras dignas de serem admiradas. E que convença
quem ainda acha que o rock está morto. E não se trata de zumbis!
por Marcelo Mendonça
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