O ovo de chocolate é ritual máximo e mais tradicional da Páscoa, pois ele representa os valores mais intrínsecos da sociedade atual, como a gula, o materialismo e necessidade de lucrar sobre tudo o possível. Também é, embora muitos não relacionem os fatos, uma festividade judaica e cristã.
Por mais inacreditável que pareça, há ainda quem se lembre do significado pascal religioso. Isso não quer dizer que não se deva fazê-lo. Nem se trata de discutir a sua genuinidade, como insistem teístas e ateístas. Trata-se de transformar algo com sentido voltado para reflexão, introspecção e outros conceitos semelhantes em futilidades e gordura localizada.
A comprovação é simples: basta perguntar a várias crianças qual o maior símbolo da Páscoa. Jesus ou o coelho? É possível que o coelho ganhe a pesquisa. Ou dizer que a ressurreição é a razão do feriado. Ouvirá que nunca comeu essa marca de chocolate. Não é descartada a possibilidade de que no futuro o conceito geral da data seja o de uma comemoração em homenagem à primeira vez que o Coelhinho veio e trouxe os ovos. Ou até o de que Jesus inventou a Páscoa para celebrar o chocolate.
A ideia dessa festa anual é bem mais remota do que a morte de Cristo. Os hebreus já a celebravam comemorando a fuga do Egito. A cerimônia cristã só veio a ser oficializada três séculos após o ocorrido, pelo Concílio de Nicéia. Não há vestígios de troca de ovos achocolatados naquele tempo no Vaticano.
Atualmente é considerado de mau tom não presentear a família e amigos com os famigerados ovos de chocolate, cujos preços se tornam cada vez mais exorbitantes. Inimizades podem ser criadas, crises familiares e até finais de relacionamentos, caso não se siga a regra de comprar o doce-lembrança. E certamente se ouvirá: Afinal, onde está seu espírito de Páscoa?
por Marcelo Mendonça
por Marcelo Mendonça