terça-feira, 11 de agosto de 2015

Sobre Livros e Filmes


O livro é melhor do que o filme. Clichê habitual de leitores que até despendem algum tempo com a sétima arte, mas não admitem comparações com as obras literárias que lhe deram origem. Há quem aguarde avidamente que haja algum comentário sobre determinados filmes para, estufando o peito, olhar disperso e com fingida despretensão declarar:

 — Até que é legal, mas o livro é muito melhor.

Em grande parte das vezes, os presentes durante tal ponderação, hão de concordar. A discussão, entretanto, acaba por ir mais além, não apenas até a qualidade individual dos elementos, mas sim aos recursos de cada meio.

Um filme, com geralmente um espaço temporal muito mais limitado, poderia dispor de uma riqueza de detalhes, da poética e a beleza das disposições de frases brilhantemente enumeradas uma após outra? Indubitavelmente, trata-se de uma árdua e nem sempre exitosa tarefa. Ainda assim, quando se alcança um objetivo digno de louvor, sempre haverá alguém com tendências de pedantismo a fazer o clássico comentário em desfavor do filme.

Um ilustre exemplo (existe uma miríade deles!) de que em ambas as mídias a obra pode se tornar grandiosa nota-se no caso de Lolita. Vladimir Nabokov publicou seu consagrado romance em 1955. Entre tantos reconhecimentos, há de se ressaltar que ele inúmeras vezes figura nos primeiros lugares de listas de melhores livros do século XX, algumas ocasiões, até mesmo em primeiro. Revolucionário em vários aspectos, polêmico e leitura essencial, intrigante e envolvente.

Já o filme Lolita, dirigido pelo também consagrado Stanley Kubrick apenas sete anos depois do romance, em 1962, tem o que se costuma chamar de aclamação universal por parte da crítica especializada. Atuações memoráveis de James Mason, como o protagonista Humbert Humbert, e, principalmente, de Peter Sellers, como Clare Quilty. No entanto, a versão cinematográfica apresenta um ponto recorrente àqueles que avidamente buscam uma falha a ser apontada: o roteiro contém várias diferenças em relação ao livro.


Esse detalhe é muito mais digno de análise do que de críticas negativas, tendo em vista que os acontecimentos “dissonantes”, na verdade se encaixam perfeitamente no contexto criado. Além disso, o roteiro foi escrito pelo próprio Nabokov. Aos que não procuram defeito ou aos que não tem a necessidade pungente de comparações desnecessárias para dizer o que é melhor ou pior sobra o deleite de saborear boas obras em qualquer mídia que sejam publicadas.
                                                                            por Marcelo Mendonça