Ninguém (ou quase) nega que
saúde, segurança, educação, alimentação, infraestrutura são itens prioritários
em uma sociedade. Porém, além desses, e muitas vezes acima deles, outra pauta
cada vez mais vem ganhando destaque: o conservadorismo da família tradicional
brasileira.
Generalizando, o que nunca é o
ideal, poderia se dizer que se trata de um movimento de pessoas já com certa
idade inconformados com os novos tempos e a juventude que perdeu toda decência
de tempos remotos. Mas o que se vê é que ambos os lados se tornaram uma mescla
de idades, assim podemos encontrar muitos jovens revoltosos por sentirem falta
de uma época gloriosa, quando era bom de se viver, mesmo que eles sequer a
tenham vivido.
Antes de decidir por qual causa
lutar é aconselhável esclarecer e compreender pelo que se está lutando. Tanto a
palavra tradição como o ato de ser conservador são fatores cronologicamente
relativos. Ainda que seja imperceptível para quem as pratica, as tradições se
renovam através do tempo e dos lugares para onde são levadas.
Assim, questionamentos do tipo
são válidos: “quais tradições eu defendo?” “que costumes pretendo conservar na
sociedade?” Muitos, por exemplo, defendem, com ou sem álibi religioso, que o
homem deve ser soberano no lar, e a mulher consequentemente submissa a ele.
Seguindo o pacote da tradição “macho absoluto”, há pouquíssimo tempo era uma
regra não escrita que o homem, mesmo que tivesse uma amante fixa e várias
sortidas, teria o “direito” de matar a mulher caso soubesse ou até suspeitasse
de uma traição. No mínimo espancar, sem consequências ou julgamentos.
Um pouco mais no passado, mas nem
tanto, a família tradicional brasileira (que ainda não usava esse título que
remete àquelas famílias suspeitas de filmes de terror em cuja casa a vítima
acaba tendo que passar a noite graças a uma tempestade ou outro inconveniente),
a F.T.B. tinha por costume ter suas escravas em casa
para servir às necessidades e caprichos. Com a abolição da escravatura, esse
cargo teve que ser adaptado para criadas que não tinham muito mais regalias que
suas antepassadas antes da alforria.
Existiram hábitos e tradições dos
mais variados tipos que foram sendo deixadas para trás, desde o dote para o
casamento ao costume de não tomar banho. O que leva a outra pergunta: “será que
algo é necessariamente bom apenas por ser tradicional ou apenas um indicador
que a pessoa está atrasada décadas ou até séculos?”.
por Marcelo Mendonça
Meu livro de poesias:
https://www.wattpad.com/story/158535831-a-dor-amor