quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Eclético



As pessoas, quando me interrogam a respeito do tipo de música que eu ouço, costumam se desmanchar em risadas ao me ouvirem dizer que sou eclético, retrucando que eu não gosto de muita coisa. Absurdo! Aprecio mais artistas no meio musical do que qualquer outra pessoa que eu conheça.

Não posso me dizer fã, claro, de tudo. Alguns, à primeira vista, ressaltam um desprezo da minha parte pelo funk, sertanejo, samba, forró, entre outros estilos. Engana-se quem pensa de tal maneira. Seria ainda falar não dizendo nada se eu afirmasse que desfruto apenas das boas músicas, sabendo que não há critérios suficientes para definitivamente intitular qualquer delas.

Sempre haverá, entre os chamados “críticos”, quem defenda a genialidade de determinado artista pouco compreendido e quem massacre tudo aquilo que em sua opinião é imperfeito naqueles que são consagrados pela maioria. Isso vale, aliás, para qualquer arte, como literatura, pintura, cinema. Entre o público, dá-se o mesmo. Não há argumentos capazes de convencer alguém que não queira ser convencido da genialidade de bandas como os Beatles ou Legião Urbana. Nem como provar o quão infames são as ditas mulheres frutas.

Quanto a mim, gosto de várias composições que se encaixam nos gêneros listados acima. O funk, por exemplo, me agrada por ter um elenco de grande qualidade. Basta conferir o famoso catálogo da gravadora Motown, James Brown, Michael Jackson, Prince e Earth, Wind and Fire. Favor não confundir com a paródia que se faz em São Paulo, tida como funk ostentação, e no Rio, funk carioca. Este chegou, por incrível que pareça, a ser considerado oficialmente como patrimônio cultural.

Em um passado não tão remoto, cursar uma universidade poderia ser considerado um tipo de erudição. Nos dias de hoje, com o nível de educação no Brasil descendo vertiginosamente, ir à faculdade significa frequentar os barzinhos próximos, arrumar companheiros para as noitadas em alguma boate ou festa nas “repúblicas”. Daí surgiu o adjetivo universitário junto ao sertanejo e ao forró, que, ao invés de ser um qualificador, serve mais como pejorativo.

A saudosa Inezita Barroso, nome forte em vários âmbitos da cultura nacional, declarou: “esse pseudosertanejo atual é música inventada pela indústria, sem raiz, paupérrima, sempre a mesma letra, sempre o mesmo ritmo!" Há de se convir que ela possuía gabarito para tais conjecturas. O verdadeiro sertanejo, o caipira ou de raiz, contém artistas com composições que, se não agradam pelo tom geralmente triste das letras, devem ser, ao menos, respeitadas. No novo cenário, há alguns poucos nomes que não apelam para as vulgaridades e promiscuidades características desta geração, como a talentosa Paula Fernandes.

Não me atrevo a dizer que não gosto de samba. Não que eu vá desfilar em uma escola no carnaval, mas compositores como Chico Buarque, fortemente calcado no samba, muito me agradam. Outros na mesma situação: João Bosco, Elis Regina, além de, claro, Demônios da Garoa e Adoniran Barbosa. O mesmo posso dizer do forró. Raul Seixas e Zé Ramalho (e até os Raimundos) usaram muito dessa influência em suas obras.


Possivelmente ninguém mudará de opinião sobre nada graças a este relato e nem é este o seu intuito. Ademais, sempre haverá o pretexto: gosto é gosto! A lista dos artistas que eu abomino é enorme, porém a dos que eu admiro é consideravelmente maior. Desta maneira, eu não poderia afirmar que determinado gênero é ruim. O ruim é o que se faz com eles. 

                                                                                                por Marcelo Mendonça