As
pessoas, quando me interrogam a respeito do tipo de música que eu ouço,
costumam se desmanchar em risadas ao me ouvirem dizer que sou eclético,
retrucando que eu não gosto de muita coisa. Absurdo! Aprecio mais artistas no
meio musical do que qualquer outra pessoa que eu conheça.
Não
posso me dizer fã, claro, de tudo. Alguns, à primeira vista, ressaltam um
desprezo da minha parte pelo funk, sertanejo, samba, forró, entre outros
estilos. Engana-se quem pensa de tal maneira. Seria ainda falar não dizendo nada
se eu afirmasse que desfruto apenas das boas músicas, sabendo que não há
critérios suficientes para definitivamente intitular qualquer delas.
Sempre
haverá, entre os chamados “críticos”, quem defenda a genialidade de determinado
artista pouco compreendido e quem massacre tudo aquilo que em sua opinião é
imperfeito naqueles que são consagrados pela maioria. Isso vale, aliás, para
qualquer arte, como literatura, pintura, cinema. Entre o público, dá-se o
mesmo. Não há argumentos capazes de convencer alguém que não queira ser
convencido da genialidade de bandas como os Beatles ou Legião Urbana. Nem como
provar o quão infames são as ditas mulheres frutas.
Quanto
a mim, gosto de várias composições que se encaixam nos gêneros listados acima.
O funk, por exemplo, me agrada por ter um elenco de grande qualidade. Basta
conferir o famoso catálogo da gravadora Motown, James Brown, Michael Jackson,
Prince e Earth, Wind and Fire. Favor não confundir com a paródia que se faz em
São Paulo, tida como funk ostentação, e no Rio, funk carioca. Este chegou, por
incrível que pareça, a ser considerado oficialmente como patrimônio cultural.
Em
um passado não tão remoto, cursar uma universidade poderia ser considerado um
tipo de erudição. Nos dias de hoje, com o nível de educação no Brasil descendo
vertiginosamente, ir à faculdade significa frequentar os barzinhos próximos,
arrumar companheiros para as noitadas em alguma boate ou festa nas “repúblicas”.
Daí surgiu o adjetivo universitário junto ao sertanejo e ao forró, que, ao
invés de ser um qualificador, serve mais como pejorativo.
A
saudosa Inezita Barroso, nome forte em vários âmbitos da cultura nacional,
declarou: “esse pseudosertanejo atual é música inventada pela indústria, sem raiz,
paupérrima, sempre a mesma letra, sempre o mesmo ritmo!" Há de se convir
que ela possuía gabarito para tais conjecturas. O verdadeiro sertanejo, o
caipira ou de raiz, contém artistas com composições que, se não agradam pelo
tom geralmente triste das letras, devem ser, ao menos, respeitadas. No novo
cenário, há alguns poucos nomes que não apelam para as vulgaridades e
promiscuidades características desta geração, como a talentosa Paula Fernandes.
Não
me atrevo a dizer que não gosto de samba. Não que eu vá desfilar em uma escola
no carnaval, mas compositores como Chico Buarque, fortemente calcado no samba,
muito me agradam. Outros na mesma situação: João Bosco, Elis Regina, além de,
claro, Demônios da Garoa e Adoniran Barbosa. O mesmo posso dizer do forró. Raul
Seixas e Zé Ramalho (e até os Raimundos) usaram muito dessa influência em suas
obras.
Possivelmente
ninguém mudará de opinião sobre nada graças a este relato e nem é este o seu
intuito. Ademais, sempre haverá o pretexto: gosto é gosto! A lista dos artistas
que eu abomino é enorme, porém a dos que eu admiro é consideravelmente maior. Desta
maneira, eu não poderia afirmar que determinado gênero é ruim. O ruim é o que
se faz com eles.
por Marcelo Mendonça
por Marcelo Mendonça