quinta-feira, 21 de maio de 2015

Novas Leituras


Não basta ler, deve-se ler muito e bons livros. Seria uma excelente frase para se usar em aulas ou palestras se de fato fosse plenamente verídica. É verdade que as vendas de publicações recentes, em seus formatos físicos e digitais, têm alcançado bons números. A discussão, entretanto, recai sobre a qualidade dos novos best-sellers.

Conservadores, por assim se dizer, defendem que, em regra, os top ten das listas de livros mais vendidos nada acrescentam a quem os lê. Podem-se considerar autores da atual geração como oportunistas que usam a escrita apenas como meio de enriquecimento, não sendo possível denominar arte seus trabalhos ou sequer literatura. A crítica é mais pertinaz ao que diz respeito às famosas “sagas” que tanto encantam adolescentes.

Há uma infinidade de nomes que poderiam ser citados para exemplificar, muitos deles falando de vampiros, lobisomens, bruxos, mundos pós-apocalípticos e, claro, paixões adolescentes.  Não que um texto sobre vampiros ou qualquer outro tópico não possa ser bom, um grande clássico, Drácula de Bram Stoker, o é. A resistência se dá em razão da superficialidade com que os temas são tratados, as tramas óbvias que se lê durante o desenrolar da história, a linguagem geralmente pobre e entediante.

Nestes casos tem-se uma verdadeira batalha entre dois fortes exércitos. De um lado os críticos literários, conceituados, que passaram a vida pesquisando bons livros e estudando teorias da literatura, dizendo que muitos desses best-sellers são absolutamente descartáveis. Do outro, a legião de fãs apaixonados por certa obra, por sua vez, não admitindo censuras ao exemplar amado, vituperando os críticos, aqueles aborrecidos arcaicos com as mentes fechadas para o novo.

Antes de tudo, é necessário separar o joio do trigo. Não se deve jogar no mesmo balaio para análise a envolvente série As Crônicas de Gelo e Fogo e a de 50 Tons de Cinza, cujo tema sexualmente apelativo pode ter sido o único fator para a grande tiragem. Separando os níveis de leitura, é preciso separar também os níveis dos leitores. É um erro frequente escolas exigirem de seus alunos de quinto ou sexto ano a análise de obras como Iracema e O Guarani de José de Alencar.

Ninguém questiona as colossais qualidades desses clássicos, tampouco sua importância. Mas para o estudante ainda despreparado, tais tarefas acabam por criar grande desestímulo para o hábito da leitura, tendo em vista a dificuldade de tais ofícios para alguém de sua idade.

Se o jovem que enxerga na prática de ler algo maçante for iniciado com obras mais leves, é bem possível que se torne, em um futuro próximo, um leitor assíduo. Sem dúvida, é preciso que ele seja orientado corretamente e, em certo momento, faça a transição entre autores como Paulo Coelho e J.K. Rowling para consagrados como Machado de Assis, Dostoiévski, Kafka, Shakespeare e dezenas de outros. Vale mencionar criações atuais realmente agradáveis (além da já citada série de George R. R. Martin), como A Menina que Roubava Livros de Markus Zusak, O Lado Bom da Vida de Matthew Quick, entre tantos análogos. Basta se aventurar.
                                                                                            por Marcelo Mendonça