sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Sobreviventes


O ano de 2018 sequer começou a engrenar, muitos ainda sob efeito da ressaca do réveillon, e o mundo da música perde mais uma artista de altíssima qualidade, Dolores O'Riordan, vocalista da banda The Cranberries, com apenas 46 anos.

Observando em breve retrospectiva, nos últimos dois anos apenas, há vários nomes de peso que encerraram definitivamente suas carreiras artísticas neste plano. David Bowie, Prince, George Michael, Glenn Frey, Leonard Cohen, Chris Cornell, Chester Bennington, Chuck Berry, Tom Petty, Malcolm Young, Maurice White são apenas alguns exemplos.

O empobrecimento musical atual é evidente. Porém, uma opção é ver o copo meio cheio, ou seja, valorizar não apenas o legado dos que se foram, mas a obra de quem ainda está na ativa. Uma lista, talvez não tão extensa como a dos que se foram, mas com grandes nomes da música mundial vale a pena ser notada.

Bruce Springsteen é um exemplo de longevidade e solidez. Com quase setenta anos, coleciona um repertório de primeira e ainda mostra muita qualidade nos dias atuais em seus mais recentes discos e shows. Vale ser ouvido do primeiro ao último trabalho. Cyndi Lauper (que participou da gravação de We Are the World com Springsteen e todos mais) é muito conhecida pelos hits do começo da carreira como Girls Just Want to Have Fun. Embora não tenha mais tanto sucesso comercial, o trabalho da cantora continua impecável. Cyndi é uma vocalista, compositora e instrumentista de raro talento.

Phil Collins (que fez uma versão de sucesso de True Colours de Cyndi Lauper) também é um caso de músico consagrado, seja pelo seu trabalho no Genesis como em sua carreira solo. Embora algumas vezes ela tenha dito que se aposentaria, ainda brinda o público com seu talento em turnês eventuais. Elton John é outro monstro sagrado da música pop que anunciou que fará uma turnê de despedida (outra!) a partir de 2018. Não é preciso esperar que Sir Elton venha a morrer para apreciar sem moderação a numerosa discografia, repleta de obras-primas.

Bob Dylan, que inclusive foi laureado recentemente com o Nobel de Literatura pela poesia em suas canções, é considerado um dos maiores nomes da história da música moderna. Autor de discos clássicos lançados nos anos sessenta e setenta como The Freewheelin Bob Dylan, Bringing It All Back Home e Highway 61 Revisited e incontáveis hinos do rock, pop e folk music, também tem sido muito elogiado por obras dos anos noventa e dois mil, reconhecidos entre os melhores de todos os tempos.

Os Rolling Stones, embora já não seja tão frequente, ainda costumam brindar o público com novos lançamentos e turnês com quase a mesma energia de cinquenta anos atrás. Com vigor parecido, Paul McCartney, aos 75 anos, ainda entrega shows de três horas de duração, de tirar o fôlego do começo ao fim, com clássicos de sua época de Beatles e sua gloriosa carreira posterior. Menos badalado, seu colega de banda Ringo Starr constantemente enriquece seu catálogo com singelos e alguns surpreendentes lançamentos.

Duas bandas que estão há muito tempo na ativa têm muito mais altos do que baixos, U2 e Scorpions, com vários discos que merecem ser ouvidos repetidamente, ainda surpreendem com a qualidade dos trabalhos entregados.

A lista é vasta: Neil Young, que chega a lançar dois (!) discos (e ótimos!) por ano; Madonna, que passou por um período em que a compulsão pelo sucesso, que antes vinha naturalmente, sufocou sua criatividade e a boa música, mas que ainda assim é uma das maiores artistas da história da música; Robert Plant, Sting, Roxette... Bandas de liderança feminina como Heart, sempre primorosas, Joan Jett, ícone feminino do hard rock e Blondie da radiante Debbie Harry, que lançou o primoroso Pollinator em 2017... Grupos que dominaram as rádios nos anos oitenta com denominado o synthpop ainda brilham em novos álbuns e turnês: Depeche Mode, Tears for Fears, A-Ha, Pet Shop Boys, New Order, Duran Duran...


Muitos faltaram ser citados, além daqueles que fizeram menos sucesso ou que são cultuados por um público específico como o metal ou o blues. Que os amantes da boa música possam um dia reconhecer os grandes ícones como tal ainda em vida. E que não venha acontecer tarde demais, quando não houver mais boa música!

                                                por Marcelo Mendonça