O ano de 2018 sequer começou a
engrenar, muitos ainda sob efeito da ressaca do réveillon, e o mundo da música
perde mais uma artista de altíssima qualidade, Dolores O'Riordan, vocalista da
banda The Cranberries, com apenas 46 anos.
Observando em breve
retrospectiva, nos últimos dois anos apenas, há vários nomes de peso que
encerraram definitivamente suas carreiras artísticas neste plano. David Bowie, Prince, George Michael,
Glenn Frey, Leonard Cohen, Chris Cornell, Chester Bennington, Chuck Berry, Tom
Petty, Malcolm Young, Maurice White são apenas alguns exemplos.
O empobrecimento musical atual é
evidente. Porém, uma opção é ver o copo meio cheio, ou seja, valorizar não
apenas o legado dos que se foram, mas a obra de quem ainda está na ativa. Uma
lista, talvez não tão extensa como a dos que se foram, mas com grandes nomes da
música mundial vale a pena ser notada.
Bruce Springsteen é um exemplo de
longevidade e solidez. Com quase setenta anos, coleciona um repertório de
primeira e ainda mostra muita qualidade nos dias atuais em seus mais recentes
discos e shows. Vale ser ouvido do primeiro ao último trabalho. Cyndi Lauper
(que participou da gravação de We Are the World com Springsteen e todos mais) é
muito conhecida pelos hits do começo da carreira como Girls Just Want to Have
Fun. Embora não tenha mais tanto sucesso comercial, o trabalho da cantora
continua impecável. Cyndi é uma vocalista, compositora e instrumentista de raro
talento.
Phil Collins (que fez uma versão
de sucesso de True Colours de Cyndi Lauper) também é um caso de músico
consagrado, seja pelo seu trabalho no Genesis como em sua carreira solo. Embora
algumas vezes ela tenha dito que se aposentaria, ainda brinda o público com seu
talento em turnês eventuais. Elton John é outro monstro sagrado da música pop
que anunciou que fará uma turnê de despedida (outra!) a partir de 2018. Não é
preciso esperar que Sir Elton venha a morrer para apreciar sem moderação a numerosa
discografia, repleta de obras-primas.
Bob Dylan, que inclusive foi
laureado recentemente com o Nobel de Literatura pela poesia em suas canções, é
considerado um dos maiores nomes da história da música moderna. Autor de discos
clássicos lançados nos anos sessenta e setenta como The Freewheelin Bob Dylan, Bringing
It All Back Home e Highway 61 Revisited e incontáveis hinos do rock, pop e folk
music, também tem sido muito elogiado por obras dos anos noventa e dois mil,
reconhecidos entre os melhores de todos os tempos.
Os Rolling Stones, embora já não
seja tão frequente, ainda costumam brindar o público com novos lançamentos e
turnês com quase a mesma energia de cinquenta anos atrás. Com vigor parecido,
Paul McCartney, aos 75 anos, ainda entrega shows de três horas de duração, de
tirar o fôlego do começo ao fim, com clássicos de sua época de Beatles e sua
gloriosa carreira posterior. Menos badalado, seu colega de banda Ringo Starr constantemente
enriquece seu catálogo com singelos e alguns surpreendentes lançamentos.
Duas bandas que estão há muito tempo na
ativa têm muito mais altos do que baixos, U2 e Scorpions, com vários discos que
merecem ser ouvidos repetidamente, ainda surpreendem com a qualidade dos
trabalhos entregados.
A lista é vasta: Neil Young, que
chega a lançar dois (!) discos (e ótimos!) por ano; Madonna, que passou por um período em que a compulsão pelo sucesso, que antes vinha
naturalmente, sufocou sua criatividade e a boa música, mas que ainda assim é
uma das maiores artistas da história da música; Robert Plant, Sting, Roxette...
Bandas de liderança feminina como Heart, sempre primorosas, Joan Jett, ícone
feminino do hard rock e Blondie da radiante Debbie Harry, que lançou o
primoroso Pollinator em 2017... Grupos que dominaram as rádios nos anos oitenta
com denominado o synthpop ainda brilham em novos álbuns e turnês: Depeche
Mode, Tears for Fears, A-Ha, Pet Shop Boys, New Order, Duran Duran...
Muitos faltaram ser citados, além
daqueles que fizeram menos sucesso ou que são cultuados por um público
específico como o metal ou o blues. Que os amantes da boa música possam um dia
reconhecer os grandes ícones como tal ainda em vida. E
que não venha acontecer tarde demais, quando não houver mais boa música!
por Marcelo Mendonça
por Marcelo Mendonça