quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

R.I.P. 2017



Em todos os anos, mais do que algum tipo de homenagem, lembrar de quem se foi pode ser um modo de celebrar a vida. Isso vale para a própria vida, a consciência de que, ao contrário de muitos, ainda não chegou nossa vez, mas também vale para reverenciar e agradecer a existência de quem nos trouxe algo de positivo mesmo sem nunca os termos conhecido.

2017, como os demais anos, deixou algumas perdas significantes para mundo artístico. Dois atores que interpretaram personagens ícones vieram a falecer neste ano. Adam West, que eternizou o Batman na TV no célebre seriado dos anos sessenta, e Roger Moore, que viveu o espião britânico mais famoso dos cinemas, assumindo o papel de James Bond nos anos oitenta. Jerry Lewis, talvez o maior ator de comédia da história do cinema, famoso pela dupla Martin e Lewis, e inspiração para artistas que vão de Jim Carrey a Leandro Hassum, partiu aos 91 anos. Menção honrosa a John Hurt.

Algumas das perdas na área musical se deram de forma totalmente inesperada. O mundo do rock se comoveu após o suicídio de Chris Cornell, uma das maiores vozes dos últimos trinta anos. Líder do Soundgarden, banda pioneira do grunge, e também famoso pelas superbandas Temple of the Dog e Audioslave, além de uma carreira solo consistente nos últimos anos, foi encontrado morto no banheiro do hotel onde estava hospedado após um show.

Se sempre foi perceptível certa tristeza nas interpretações de Chris Cornell (que conseguiu fazer Billie Jean do Michael Jackson soar como Nina Simone!), o mais recente álbum de estúdio, e talvez o último, do Linkin Park (que ocorreu um dia após a morte de Cornell), nitidamente foi o disco mais melancólico e deprimente da banda. No refrão do hit principal chamado Heavy, Chester Bennington cantava em forma de lástima: “por que tudo é tão pesado?”. Chester, que tinha grande amizade pelo vocalista do Soundgarden, após a morte deste, havia dito que era impossível viver num mundo sem o amigo. Dois meses depois ele também foi encontrado morto, tendo se enforcado em sua casa em Los Angeles.

Um dos maiores nomes da história do rock, o guitarrista que fortemente influenciou os Beatles e os Rolling Stones, Chuck Berry, com noventa anos, resolveu tocar seus clássicos como Jhonny B. Good, Roll Over Beethoven e Rock and Roll Music no grande Woodstock do além. Três meses antes de morrer, deixou um último presente, o agradabilíssimo álbum Chuck, o primeiro de estúdio em trinta e oito anos. Menção honrosa a outro pioneiro do rock, Fats Domino, que morreu com oitenta e nove anos.

Tom Petty, outro grande nome da música, autor de discos geniais como Full Moon Fever, Dam the Torpedoes e Wildflowers, encerrou seu ciclo vital em outubro deste ano. Malcolm Young, fundador do lendário AC/DC e considerado um dos maiores guitarristas rítmicos da história, já havia sido afastado da banda em 2014, tendo sido alegado à época que ele estaria sofrendo de demência. Em novembro de 2017, Malcolm não resistiu e veio a óbito. Menção honrosa também a Al Jarreau, cantor vencedor de sete Grammy.

O Brasil também teve suas baixas lastimáveis, como o incrível compositor Belchior, autor de Apenas um Rapaz Latino Americano, Como Nossos Pais (imortalizado por Elis Regina), Velha Roupa Colorida, entre outras. Jerry Adriani, grande figura da Jovem Guarda, morreu vítima do câncer em abril deste ano. Novas menções, desta vez para Kid Vinil e Luiz Melodia.


Na verdade, em todos os anos artistas que tiveram carreiras marcantes, com idade mais avançada ou ainda precocemente, deixam milhares de órfãos de seus ídolos. Porém, a falta de novos ícones à altura que poderiam surgir nos mesmos anos, torna esse quadro mais melancólico. Que o ano de 2018 seja brando com aqueles permanecem vivos. Um brinde aos que partiram! E aos que ficaram!

                                                           por Marcelo Mendonça


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Palhaços e Ervas Daninhas


Tiririca renunciou. Frase que muito circulou nos últimos dias e muitos se comoveram com seu discurso de despedida. A questão, entretanto, não é tão simples, começando pelo fato de ele não ter renunciado. A confusão se fez após ele dizer que estava abandonando a vida pública. A verdade é que ele apenas alegou que não pretende se candidatar em futuras eleições.

No vídeo que viralizou de seu único discurso na Câmara dos Deputados, ele diz que sai muito triste com o parlamento, envergonhado e decepcionado com a política nacional e os colegas da Casa. A empatia com Tiririca é óbvia: vem da indignação generalizada do povo com os políticos no Brasil.
É também sabido que um deputado sem grande apoio não consegue levar adiante grandes (ou mesmo significativos) projetos. Também que o congressista Tiririca notoriamente não é o mais capacitado para tais feitos.

O humorista foi o mais votado para deputado federal em 2010 e o segundo em 2014, se tornando o instrumento principal de protesto dos eleitores, uma espécie atualizada do rinoceronte Cacareco. A diferença é que a paquiderme não pôde assumir o cargo.

Em seus depoimentos, com frequência Tiririca afirma que não compactuou em seus mandatos com a corrupção de outros políticos, fato por enquanto não questionado. Sua honestidade, porém, não é absoluta. Na época de sua primeira candidatura, algumas denúncias apontavam que ele seria analfabeto. Após investigações, ele alegou não ter conseguido preencher sua declaração de escolaridade sozinho, mas teria sido ajudado por sua mulher. Após um bom trabalho de sua defesa, Tiririca pôde ser empossado normalmente.

Não sendo o salvador da pátria nem tendo se corrompido aos astronômicos desvios de dinheiro, Tiririca em breve estará do lado que cá novamente, o lado daqueles que só podem se indignar com o Congresso sem nada poder fazer após as eleições. Com a diferença de que ele estará recebendo uma enorme pensão vitalícia por seus oito anos de mandato.


Tiririca, o humorista, deixará de conviver com a pior espécie de ervas daninhas, a dos políticos corruptos, que alastra nosso país há tempos. De tudo que fez e do que não fez, o humorista não pode fugir de uma sentença: culpado de não cumprir a promessa de sete anos atrás quando disse que “pior que está, não fica”. Ficou. E os palhaços, como sempre, somos nós.

                                          por Marcelo Mendonça