Em todos os anos, mais do que
algum tipo de homenagem, lembrar de quem se foi pode ser um modo de celebrar a vida. Isso vale para a própria vida, a consciência de que, ao contrário
de muitos, ainda não chegou nossa vez, mas também vale para reverenciar e
agradecer a existência de quem nos trouxe algo de positivo mesmo sem nunca os termos conhecido.
2017, como os demais anos, deixou
algumas perdas significantes para mundo artístico. Dois atores que
interpretaram personagens ícones vieram a falecer neste ano. Adam West, que
eternizou o Batman na TV no célebre seriado dos anos sessenta, e Roger Moore,
que viveu o espião britânico mais famoso dos cinemas, assumindo o papel de
James Bond nos anos oitenta. Jerry Lewis, talvez o maior ator de comédia da
história do cinema, famoso pela dupla Martin e Lewis, e inspiração para artistas
que vão de Jim Carrey a Leandro Hassum, partiu aos 91 anos. Menção honrosa a
John Hurt.
Algumas das perdas na área
musical se deram de forma totalmente inesperada. O mundo do rock se comoveu
após o suicídio de Chris Cornell, uma das maiores vozes dos últimos trinta anos.
Líder do Soundgarden, banda pioneira do grunge, e também famoso pelas superbandas
Temple of the Dog e Audioslave, além de uma carreira solo consistente nos
últimos anos, foi encontrado morto no banheiro do hotel onde estava
hospedado após um show.
Se sempre foi perceptível certa
tristeza nas interpretações de Chris Cornell (que conseguiu fazer Billie Jean
do Michael Jackson soar como Nina Simone!), o mais recente álbum de estúdio, e
talvez o último, do Linkin Park (que ocorreu um dia após a morte de Cornell),
nitidamente foi o disco mais melancólico e deprimente da banda. No refrão do
hit principal chamado Heavy, Chester Bennington cantava em forma de lástima:
“por que tudo é tão pesado?”. Chester, que tinha grande amizade pelo vocalista
do Soundgarden, após a morte deste, havia dito que era impossível viver num
mundo sem o amigo. Dois meses depois ele também foi encontrado morto, tendo se
enforcado em sua casa em Los Angeles.
Um dos maiores nomes da história
do rock, o guitarrista que fortemente influenciou os Beatles e os Rolling
Stones, Chuck Berry, com noventa anos, resolveu tocar seus clássicos como
Jhonny B. Good, Roll Over Beethoven e Rock and Roll Music no grande Woodstock
do além. Três meses antes de morrer, deixou um último presente, o
agradabilíssimo álbum Chuck, o primeiro de estúdio em trinta e oito anos.
Menção honrosa a outro pioneiro do rock, Fats Domino, que morreu com oitenta e
nove anos.
Tom Petty, outro grande nome da
música, autor de discos geniais como Full Moon Fever, Dam the Torpedoes e
Wildflowers, encerrou seu ciclo vital em outubro deste ano. Malcolm Young,
fundador do lendário AC/DC e considerado um dos maiores guitarristas rítmicos da
história, já havia sido afastado da banda em 2014, tendo sido alegado à época
que ele estaria sofrendo de demência. Em novembro de 2017, Malcolm não resistiu
e veio a óbito. Menção honrosa também a Al Jarreau, cantor vencedor de sete
Grammy.
O Brasil também teve suas baixas
lastimáveis, como o incrível compositor Belchior, autor de Apenas um Rapaz
Latino Americano, Como Nossos Pais (imortalizado por Elis Regina), Velha Roupa
Colorida, entre outras. Jerry Adriani, grande figura da Jovem Guarda, morreu
vítima do câncer em abril deste ano. Novas menções, desta vez para Kid Vinil e
Luiz Melodia.
Na verdade, em todos os anos artistas
que tiveram carreiras marcantes, com idade mais avançada ou ainda precocemente,
deixam milhares de órfãos de seus ídolos. Porém, a falta de novos ícones à
altura que poderiam surgir nos mesmos anos, torna esse quadro mais
melancólico. Que o ano de 2018 seja brando com aqueles permanecem vivos. Um
brinde aos que partiram! E aos que ficaram!