quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Ô Tiago!



Após terminar seus afazeres naquele dia, Tiago decidiu que era hora de dormir. Conferiu uma última vez suas coisas, organizou rapidamente alguns papéis e foi para o quarto. Trocou-se, pegou um livro que começara a ler no dia anterior, mas logo mudou de ideia e devolveu o livro ao seu lugar, ao lado da cama. Não convinha demorar a dormir, precisava acordar cedo, pois tinha um compromisso.
Havia conseguido um novo emprego, na empresa que almejava e começaria na próxima manhã. O único inconveniente é que ele morava exageradamente longe e não possuía um veículo para facilitar. Por sorte, conhecera outro funcionário da empresa que percorria caminho próximo à casa de Tiago. Combinaram que esse funcionário, de nome Isaías, passaria em sua casa às seis horas da manhã em ponto.
Deitou-se. Já estava tarde, já estava tarde. Ficou pensando em como seria seu primeiro dia, sua adaptação, o que achariam dele, como lidaria com os colegas. Seriam simpáticos? Ele faria algum amigo lá? Quem sabe conheceria a mulher da sua vida? O chefe seria muito exigente?
Em meio a algum desses pensamentos, Tiago notou que mais de uma hora havia se passado desde que se deitara. Isto o desesperou: está mais tarde ainda! Não se conformava em como tinha sido imaturo dispendendo tanto tempo pensando nessas coisas. De todo modo, agora precisava dormir. Virou para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo. Nada. O sono dera lugar à inquietude.
Assim passou mais uma ou duas horas: a preocupação em dormir não o deixava dormir. Em certo momento, enfim, começou a cochilar, ainda que um sono leve. Mal isso se deu, ele ouviu um grito: Tiago, ô Tiago! Pulou da cama em desespero, já estava na hora! Sem se vestir direito foi correndo pelos cômodos, abriu a porta que dava para a rua e então percebeu que ainda era noite. A voz que lhe chamara fora um sonho. De mau gosto, vale dizer. Deitou-se novamente e, após nova batalha com o sono, graças à raiva que tivera por ter acordado, adormeceu novamente.
De súbito levantou-se ao ouvir sons de carros na rua. Olhou no relógio, havia perdido a hora. Seis e meia. Num turbilhão de sensações, vestiu-se rapidamente, correu para a rua e nada de Isaías. Sem saber o que fazer, sentou-se no meio-fio. Não se perdoava pelo atraso. Certamente estava tão cansado das horas mal dormidas que não ouvira o despertador. Seu tão cobiçado novo emprego estava se esvaecendo pelo ar. 

Então, quase começando a chorar, com o olhar perdido na direção do final da rua, viu um taxi. Jogou-se em frente ao veículo e quase foi atropelado. Ao chegar à empresa, descobriu que seu carona adoecera e não iria trabalhar. Naquele dia, Tiago conseguiu, além do cargo apetecido, uma boa história que contaria nos muitos ano da amizade com Isaías que disso tudo proviu. Sempre, claro, com a mais simulada repreensão.

                                                                            por Marcelo Mendonça

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